Chorar em outro país também é viajar – desafios emocionais da viagem solo
Muito além do pôr do sol perfeito
Lembro de uma noite sozinha em um quarto minúsculo de hotel, chorando de frustração depois de me perder por horas numa cidade estrangeira. O dia tinha começado com sol, sorrisos e planos lindos, mas terminou com um GPS falhando, fome, cansaço e um sentimento de solidão que eu não esperava encontrar numa viagem que parecia tão promissora. Foi nesse momento, sentada no chão com o tênis ainda sujo de poeira, que entendi: viajar sozinha é muito mais do que liberdade e paisagens bonitas.
É lidar com imprevistos, encarar inseguranças, e sentir tudo, de euforia à exaustão, com intensidade dobrada. Cada perrengue vivido se transforma numa parte essencial da jornada, porque é ali, no desconforto e na superação, que mora o verdadeiro aprendizado.
Neste post, compartilho uma sequência de histórias e reflexões sobre os perrengues de viagem solo que mudaram minha forma de ver o mundo, e a mim mesma. Porque, no fim, cada desafio foi muito mais do que um contratempo: foi uma oportunidade de crescimento pessoal que eu jamais teria vivido de outro jeito.
O lado invisível das viagens solo
Quando pensamos em viajar sozinha, é comum imaginar fotos perfeitas, paisagens de tirar o fôlego e aquela aura de liberdade absoluta. As redes sociais reforçam essa imagem o tempo todo, sorrisos espontâneos em frente a monumentos famosos, cafés charmosos em ruelas escondidas, pores do sol cinematográficos com legendas inspiradoras. Mas existe um lado da viagem solo que raramente aparece no feed: o emocional.
Por trás das fotos bonitas, muitas vezes há solidão, insegurança, ansiedade e cansaço. Há dias em que a coragem parece falhar, em que o silêncio pesa mais do que conforta, e em que o mundo parece grande demais para se enfrentar sozinha. Isso não quer dizer que a experiência não vale a pena, pelo contrário. É justamente nesses momentos mais vulneráveis que a gente cresce.
A romantização da jornada solo, alimentada por filtros e frases motivacionais, pode criar uma expectativa irreal, principalmente para quem está começando. Quando os sentimentos difíceis aparecem (e eles aparecem), é fácil pensar que há algo errado com você, que talvez não esteja “vivendo a viagem como deveria”.
Por isso é tão importante falar sobre o lado invisível das viagens solo. Normalizar o medo, o choro no quarto, a dúvida na esquina sem placa. Porque esses momentos são parte da jornada tanto quanto os sorrisos e os registros bonitos. Eles são reais, humanos e profundamente transformadores.
Compartilhar essas experiências com honestidade é um ato de cuidado com quem sonha em se lançar no mundo, e também um lembrete: o verdadeiro valor da viagem não está só no destino, mas em tudo o que a gente sente pelo caminho.
Solidão em terra estrangeira
Estar em um lugar novo, rodeado por uma cultura vibrante, paisagens incríveis e possibilidades infinitas, e ainda assim sentir um vazio inesperado. Esse é um dos paradoxos da viagem solo: a solidão pode surgir mesmo nos cenários mais bonitos, quando tudo ao redor parece mágico, mas por dentro algo aperta o peito.
É importante entender que há uma diferença profunda entre estar sozinha e se sentir solitária. Viajar sozinha pode ser libertador. Você faz seus próprios horários, decide o ritmo, se conecta com o destino de um jeito mais íntimo. Mas, em alguns momentos, essa liberdade vem acompanhada de um silêncio que ecoa mais do que conforta. Às vezes, o que você mais quer é dividir aquela vista incrível com alguém, conversar em uma língua familiar ou simplesmente ter uma presença conhecida por perto.
A barreira do idioma intensifica essa sensação. Quando você não consegue se comunicar com clareza, seja para pedir informação, resolver um problema ou apenas fazer uma pergunta boba no mercado, o mundo ao redor parece mais distante. Mesmo cercada por pessoas, você pode se sentir isolada, como se estivesse dentro de uma bolha invisível.
As diferenças culturais também pesam. Há gestos, hábitos, ritmos e códigos sociais que não fazem parte da sua bagagem, e isso pode gerar desconforto, confusão e até uma sensação de inadequação. Tudo isso impacta diretamente no emocional e, se não for acolhido com empatia, pode transformar momentos incríveis em experiências difíceis de digerir.
Mas reconhecer essa solidão é o primeiro passo para transformá-la. Quando você entende que ela faz parte da experiência, que não é um fracasso, mas uma etapa natural da jornada, ela perde o peso de “algo errado” e se torna uma oportunidade de se reconectar consigo mesma de um jeito mais honesto.
Estar sozinha em terra estrangeira é desafiador, sim. Mas é também um convite: a se escutar com mais atenção, a se acolher nos momentos de vulnerabilidade e a descobrir que, mesmo no silêncio, você é suficiente
Quando bate a saudade (e o medo)
Em meio a tanta novidade, é fácil esquecer que viajar sozinha também traz uma bagagem emocional pesada: a saudade. Ela chega sem avisar, às vezes no fim de um dia lindo, às vezes no meio de uma refeição em silêncio, ou ao ver algo que te lembra alguém que ficou. Bate a saudade da família, dos amigos, dos cheiros e sons familiares. Da rotina, até aquela mesma que a gente jurou querer fugir. Porque, longe de casa, até o trânsito da sua cidade pode parecer reconfortante.
E junto da saudade, vem o medo.
Estar em outro país, outra cultura, com outro idioma, intensifica tudo. Uma situação inesperada, como se perder, ficar doente ou enfrentar uma emergência, ganha uma dimensão emocional muito maior quando você está sozinha e longe de qualquer referência segura. Aquela calma que seria fácil manter em casa, com uma ligação ou uma visita rápida a alguém de confiança, vira um turbilhão de pensamentos ansiosos. “E se algo acontecer comigo aqui?”, “E se eu não conseguir me comunicar?”, “E se eu não souber o que fazer?”
Esses momentos mexem com a nossa autoconfiança. A sensação de vulnerabilidade cresce, e o medo, mesmo irracional, parece muito real. É o tipo de experiência que te faz perceber como o conforto emocional da presença dos outros é mais valioso do que parecia antes de partir.
Mas também é nesses momentos que algo se transforma. Você aprende a respirar fundo, a buscar soluções por conta própria, a confiar nos seus instintos. Aprender que pedir ajuda não é fraqueza, e que sentir medo não te impede de seguir, só te obriga a ir com mais cuidado. Com o tempo, o medo deixa de ser um inimigo e se torna um professor. E a saudade? Vira uma ponte que liga você ao que importa, é que te lembra por que vale a pena voltar.
Viajar sozinha é, muitas vezes, enfrentar o mundo com o coração exposto. Mas é justamente isso que torna a experiência tão poderosa. É ali, no aperto da saudade e no frio na barriga do medo, que nascem a força, a coragem e uma confiança que ninguém mais pode te dar.
Chorar em outro país também é parte da viagem
Tem gente que acha que chorar durante uma viagem solo é sinal de fraqueza, de que algo deu muito errado, de que talvez você não “sirva” pra isso. Mas a verdade é que chorar em outro país também é parte da viagem, e muitas vezes, é a parte mais transformadora de todas.
Estar em um lugar desconhecido, longe de tudo que é familiar, mexe profundamente com a gente. Não é só o fuso horário que desregula: são as emoções, o corpo, o coração. Você pode estar num destino dos sonhos, cercada por belezas que sempre quis conhecer, e ainda assim se sentir exausta, frustrada, perdida ou até triste sem motivo aparente. E tá tudo bem. Sentir tristeza não anula a experiência positiva, só mostra que você está vivendo ela por completo, com todas as suas camadas.
Lembro de uma tarde em que tudo desandou: um atraso no transporte, uma mala extraviada e uma reserva que não existia mais. Eu estava sozinha, cansada, sem sinal no celular, e o peso emocional daquele dia caiu de uma vez. Sentei na calçada de uma praça desconhecida e chorei. Não foi bonito, nem digno de post no Instagram. Mas ali, naquele choro, algo virou. Porque às vezes o choro não é um colapso, é um reinício. Ele limpa, alivia, acalma.
Foi naquele dia que percebi que eu era mais forte do que achava. Não porque aguentei tudo sem sentir, mas porque permiti sentir tudo, e mesmo assim continuei.
Histórias poderosas nascem desses momentos difíceis. São eles que te mostram quem você é de verdade, além da turista empolgada com o roteiro. Você vira uma pessoa que aprende a se acolher sozinha, a se reerguer com delicadeza e, acima de tudo, a entender que estar vulnerável não é o contrário de ser corajosa, é a essência da coragem.
Então, se você já chorou durante uma viagem, ou se isso acontecer um dia, lembre-se: isso também faz parte. Às vezes, é exatamente nesse momento que a jornada começa a mudar por dentro.
Ferramentas para cuidar do emocional na estrada
Viajar sozinha é uma aventura linda, mas também exige um cuidado emocional constante. Estar longe de casa, enfrentando novos desafios todos os dias, pode mexer com o psicológico mais do que a gente imagina. Por isso, é fundamental ter ferramentas que ajudem a cuidar da saúde mental durante a jornada — especialmente quando os dias pesam.
Algumas práticas simples fazem uma grande diferença:
🖊️ Journaling — Escrever sobre o que você está sentindo ajuda a organizar os pensamentos, desabafar e enxergar as situações com mais clareza. Mesmo que seja só um parágrafo por dia, colocar no papel (ou no celular) o que está passando por dentro pode trazer alívio e autoconhecimento.
🧘♀️ Meditação e respiração consciente — Reservar alguns minutos por dia para respirar fundo, fechar os olhos e se conectar com o momento presente ajuda a acalmar a mente e aliviar a ansiedade. Existem vários apps que facilitam isso, mesmo em movimento.
🌍 Grupos de apoio e comunidades online — Participar de fóruns, grupos de viajantes solo ou comunidades em redes sociais pode ser um suporte importante. É reconfortante saber que outras pessoas passam pelas mesmas dificuldades — e às vezes uma conversa rápida com um desconhecido empático muda o dia.
🤝 Contato com pessoas locais — Se permitir conversar com quem vive no lugar que você está pode aliviar a sensação de isolamento. Um papo no mercado, um café com alguém que você conheceu no hostel, ou até uma aula de culinária local… pequenas conexões criam grandes acolhimentos.
📱 Chamadas de vídeo com pessoas queridas — Quando a saudade aperta, ouvir a voz de alguém de casa pode ser tudo que você precisa. Ter esses momentos de conexão, mesmo que breves, ajuda a recarregar emocionalmente.
E se, mesmo com essas estratégias, você sentir que está difícil demais lidar com tudo, buscar ajuda profissional é totalmente válido — e necessário. Existem psicólogas e terapeutas que atendem online, com flexibilidade de horários, e isso pode ser uma forma essencial de manter o equilíbrio emocional mesmo longe. Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar da saúde física na estrada.
No fim das contas, autocuidado não é luxo — é sobrevivência emocional. É o que permite que a viagem seja mais do que um checklist de lugares, e se transforme numa experiência profunda, humana e verdadeiramente transformadora. Porque, quanto mais você se cuida, mais inteiro você vive cada passo do caminho.
O que aprendemos com os desafios emocionais da viagem solo
No começo, a ideia de viajar sozinha parece estar ligada à força, à coragem, à liberdade sem limites. Mas, com o tempo, e com os perrengues emocionais no caminho, a gente descobre uma verdade ainda mais poderosa: a força real está na vulnerabilidade.
Estar vulnerável em uma viagem solo não significa estar fraca. Pelo contrário. Significa ter a coragem de se abrir para o desconhecido, de encarar medos sem rede de apoio por perto, de chorar no meio de um país estranho e, mesmo assim, continuar. Os momentos de dor, de saudade, de medo, de exaustão… todos eles trazem algo que nenhuma paisagem sozinha seria capaz de oferecer: crescimento pessoal de verdade.
É fácil romantizar o aprendizado quando olhamos para trás, mas na hora em que ele acontece, muitas vezes ele dói. Só que é nessa dor que a gente se encontra. É quando você percebe que pode se acolher sozinha, que consegue se adaptar, improvisar, pedir ajuda e que isso não te faz menor, mas sim mais humana.
Esses desafios emocionais tornam a viagem mais profunda e significativa porque tiram a experiência da superfície. Não é só sobre os lugares que você visitou, mas sobre quem você se tornou enquanto andava por eles. São as quedas, os silêncios, as superações e as pequenas vitórias que marcam o mapa interno da jornada.
Viajar sozinha é muito mais do que conhecer o mundo, é se conhecer com mais verdade. E isso, com todos os altos e baixos, transforma a viagem em algo que ultrapassa o turismo: vira uma travessia íntima, real e inesquecível.
Porque no fim, o que realmente levamos na bagagem não são só fotos e lembranças, mas tudo o que a gente aprendeu quando achou que não ia dar conta… e deu.
Conclusão: chorar em outro país também é viajar
Viajar sozinha é sobre liberdade, sim. Sobre descobertas, paisagens de tirar o fôlego e momentos de pura conexão com o mundo. Mas também é sobre noites em que a saudade aperta, dias em que o medo paralisa, momentos em que as lágrimas caem e tudo isso faz parte da jornada.
Chorar em outro país também é viajar. É tão legítimo quanto sorrir diante de um pôr do sol inesquecível. É sinal de que você está vivendo de verdade, com o coração aberto para tudo que a experiência tem a oferecer o leve e o pesado, o bonito e o difícil.
Abraçar a totalidade da viagem é aceitar que somos humanos, que sentir faz parte, e que é justamente essa intensidade emocional que transforma cada passo em algo memorável. Quanto mais honestamente você vive a jornada, mais profunda ela se torna.
Agora eu quero ouvir você:
🧳 Qual foi aquele momento da sua viagem solo que te marcou emocionalmente?
Pode ter sido difícil, bonito, confuso ou transformador, compartilha nos comentários!
Vamos trocar experiências, porque às vezes, só de ler a história de outra pessoa, a gente já se sente um pouco mais acompanhada nessa estrada.