5 desafios reais de viajar sozinha e como venci cada um

Comecei a viajar sozinha por uma mistura de curiosidade, vontade de liberdade e aquela sensação inquieta de quem precisa se reencontrar. Depois de anos esperando por companhia, decidi que não ia mais adiar meus sonhos por falta de agenda compatível, e comprei a primeira passagem só de ida. Na minha cabeça, tudo seria como nos filmes: pores do sol cinematográficos, cafés charmosos em ruazinhas históricas, descobertas pessoais profundas e, claro, aquela paz interior quase mística.

Mas a realidade… bom, ela me deu uma recepção bem diferente.

Logo nos primeiros dias percebi que viajar sozinha tem sim sua beleza e sua magia, mas também carrega desafios que ninguém menciona nos posts inspiradores do Instagram. Tem perrengue, tem solidão, tem medo, tem improviso. Tem noites em que a gente se pergunta “o que eu tô fazendo aqui?” e manhãs em que o simples ato de sair da cama já é uma conquista.

Neste artigo, quero compartilhar com você 5 desafios reais que enfrentei em viagens solo, sem filtros, sem dramatizações, e o que aprendi com cada um deles. Mais do que desabafar, minha ideia é oferecer reflexões e dicas práticas para quem está pensando em se aventurar por esse caminho. Porque a verdade é que viajar sozinha pode ser transformador, mas isso não significa que seja fácil. E tudo bem. 💛

Desafio 1: Lidar com o medo e a insegurança

Antes da minha primeira viagem solo, o medo começou antes mesmo de fazer a mala. Era um mix de ansiedade e pensamentos catastróficos: “E se algo der errado? E se eu me perder? E se eu não conseguir pedir ajuda?” No fundo, o medo vinha de sair da zona de conforto, não só fisicamente, mas emocionalmente também. Era o medo do desconhecido… e de estar sozinha nele.

Durante a viagem, esses medos se manifestam de várias formas: aquele frio na barriga ao chegar em um lugar novo sem ninguém esperando por mim; o receio de sair à noite sozinha; a constante vigilância para não parecer “vulnerável”. Em alguns momentos, parecia que minha mente criava perigos o tempo inteiro, mesmo quando tudo estava sob controle.

O que me ajudou a enfrentar esse medo não foi me tornar “sem medo”, mas me preparar melhor.
Comecei a perceber que quanto mais eu sabia sobre o lugar, mais segura eu me sentia. Pesquisar sobre cultura local, transporte, cuidados específicos para mulheres viajando sozinhas. Escolher hospedagens bem avaliadas e em regiões centrais. Compartilhar o roteiro com pessoas de confiança. E, talvez o mais importante: me ouvir. Se algo me parecia estranho ou desconfortável, eu confiava nessa intuição, e isso me salvou de várias situações que poderiam ter virado perrengue.

Outro ponto fundamental foi entender que o medo não precisava ser um inimigo. Ele podia ser um sinal de alerta, um guia, um lembrete de que eu estava fazendo algo grande, desafiador, fora do comum. E sentir medo não me fazia fraca, me fazia humana.

🧭 Dica prática: Antes de viajar, crie sua “rede de segurança”:

Compartilhe seu roteiro com uma ou duas pessoas de confiança.

Tenha sempre uma cópia digital e impressa dos seus documentos.

Instale apps de localização em tempo real (como o Google Maps e o “Compartilhar local” do WhatsApp).

Anote contatos de emergência locais (embaixada, hospedagem, serviços de saúde).

E o mais importante: confie na sua intuição. Ela é uma das ferramentas mais poderosas que você tem na estrada.

O medo ainda aparece às vezes, claro. Mas agora, ele não me paralisa. Ele caminha comigo — e eu aprendi a não deixá-lo guiar o volante.

Desafio 2: Solidão e falta de companhia

Uma das coisas que mais me surpreenderam ao viajar sozinha foi perceber que a solidão pode aparecer mesmo em meio à paisagem mais bonita do mundo. Teve um dia em que eu estava em frente a um lago incrível, o céu refletindo cores absurdas no fim da tarde, e ainda assim… senti um vazio. Era lindo, mas eu queria compartilhar aquele momento com alguém. Um comentário bobo, um sorriso cúmplice, uma foto espontânea. E ali percebi: beleza não substitui presença.

A solidão bateu forte em momentos inesperados: almoçar sozinha em um restaurante cheio de grupos animados, pegar um ônibus de quatro horas sem ter ninguém com quem dividir a janela, ou até rir sozinha de algo e não ter com quem dividir a piada. Nessas horas, parecia que eu era a única pessoa do mundo sem companhia, e isso doía.

Mas com o tempo, fui entendendo que existe uma diferença profunda entre solidão e solitude.
A solidão é a ausência. A solitude, presença — de si. Comecei a valorizar os momentos em que eu podia me ouvir, escrever no diário, observar as pessoas ao meu redor com calma. Aprendi a gostar da minha companhia. A caminhar sem pressa. A não precisar de alguém ao lado o tempo todo para me sentir completa.

Ainda assim, somos seres sociais, e eu também aprendi a me abrir para conexões. Hostels foram meus grandes aliados: muitos têm áreas comuns e eventos sociais que facilitam a interação. Também usei apps como Couchsurfing Hangouts e Meetup para encontrar viajantes ou locais dispostos a conversar. E participar de walking tours gratuitos foi uma das melhores formas de conhecer gente nova sem pressão.

🧭 Dica prática: leve com você um hobbie ou algo que goste de fazer sozinha, como ler, desenhar, escrever, ouvir podcasts. E não subestime o poder de atividades em grupo: uma aula de culinária local, um passeio guiado ou até um café em coworkings e bibliotecas pode render bons encontros. Às vezes, tudo o que a gente precisa é dar o primeiro “oi”.

Estar só não significa estar solitária. E quando a gente aprende a preencher os próprios silêncios com presença, até os momentos mais vazios começam a fazer sentido.

Desafio 3: Tomar todas as decisões sozinha

Viajar sozinha é sinônimo de liberdade, mas também de responsabilidade total. Desde o roteiro até o restaurante do almoço, passando pela logística do transporte, o horário do check-out, a moeda local, o câmbio, a previsão do tempo, o que levar na mochila do dia… tudo depende única e exclusivamente de você. E isso, por mais empoderador que pareça, cansa.

Eu só percebi o peso real disso quando me vi em uma estação de trem confusa no interior da Itália, com placas em italiano, pouca sinalização e um bilhete que parecia não corresponder a trem nenhum. Eu precisava decidir rápido qual plataforma seguir, e a sensação de não ter ninguém para confirmar a escolha comigo me travou. Acabei pegando o trem errado. E ainda que tenha conseguido corrigir a rota depois, a frustração bateu com força.

A verdade é que, por mais bem planejada que a viagem esteja, decidir tudo sozinha gera sobrecarga mental. Não tem ninguém para sugerir um plano B, dividir a dúvida, ou simplesmente dizer “tanto faz” e aliviar o peso da escolha. Você vira seu próprio GPS, consultora, companhia e apoio, e isso exige muito.

Com o tempo, aprendi duas coisas fundamentais.
A primeira: nem tudo precisa ser decidido com perfeição. Errei o trem? Tudo bem. Comi em um lugar mediano? Paciência. Escolhi um passeio que não curti tanto? Faz parte. Aprender a tirar o peso da decisão perfeita me ajudou a viajar mais leve.

A segunda: confiar na minha intuição. Aquela voz interna que às vezes a gente ignora por querer seguir o “roteiro ideal” ou por medo de errar. Quando comecei a me escutar de verdade, a tomar decisões baseadas não só na lógica, mas no que fazia sentido pra mim naquele momento, tudo fluiu melhor. Algumas das melhores experiências da minha viagem aconteceram justamente quando deixei de seguir o plano e escolhi com o coração.

🧭 Dica prática: sempre que possível, descomplique. Deixe espaços livres no roteiro. Não tenha medo de mudar os planos. E se bater a dúvida paralisante, respire fundo, pergunte a si mesma: “o que me faz sentir mais segura ou mais feliz agora?” — e vá por aí. Você sabe mais do que imagina.

Porque no fim, tomar todas as decisões sozinha também ensina algo poderoso: que você é capaz. Mesmo quando erra. Mesmo quando não tem certeza. E isso vale mais do que qualquer roteiro perfeito

Desafio 4: Enfrentar imprevistos sem apoio imediato

Uma das coisas que mais me assustavam antes de viajar sozinha era imaginar: “E se algo der errado?” Spoiler: uma hora, dá. E foi numa viagem à Argentina que esse medo virou realidade — e lição.

No terceiro dia em Buenos Aires, acordei com febre, dor de garganta e um mal-estar generalizado. Estava hospedada em um Airbnb, sozinha, sem farmácia por perto e sem forças nem pra levantar da cama direito. Bateu o desespero: e se piorar? E se eu precisar de hospital? Quem eu chamo? A solidão, que até então estava sendo leve, virou um peso enorme. Eu só queria alguém pra trazer um chá, segurar minha mão ou dizer “vai ficar tudo bem”.

Respirei fundo e tentei entrar no modo prático. Mandei mensagem para a anfitriã explicando a situação e ela, muito solícita, indicou uma farmácia com delivery. Também pedi ajuda a uma amiga por mensagem para traduzir os sintomas e explicar ao atendente. Depois de descansar e me hidratar bastante, fui melhorando. Mas o susto me ensinou muito.

Lidar com imprevistos sozinha exige um equilíbrio delicado entre controle e entrega. Na prática, ter informações importantes já organizadas me ajudou: seguro viagem válido, endereço do lugar onde estava, número da embaixada e contatos úteis salvos no celular.
Emocionalmente, o que me salvou foi lembrar que eu não precisava dar conta de tudo sozinha o tempo todo, e que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de inteligência emocional.

Enfrentar um imprevisto sozinha assusta, sim. Mas também mostra uma força que talvez você nem soubesse que tinha. E quando tudo passa — porque sempre passa —, você percebe que, de alguma forma, ficou mais forte. Mais resiliente. E um pouco mais confiante pra encarar o próximo desafio.

Desafio 5: Julgamentos e estereótipos

Uma das coisas que mais me marcou nas viagens não foi o que vivi, mas o que ouvi. Comentários que, mesmo ditos com um sorriso, carregavam julgamento e surpresa pelo simples fato de eu estar sozinha — e ser mulher.

“Você não tem medo?”
“Mas e o seu namorado, deixou você viajar sozinha?”
“Coitada, sozinha no restaurante…”
“Se fosse minha filha, não deixava.”

Essas frases, ditas em diferentes países, de pessoas locais e até de outros turistas, mexiam comigo. No começo, eu sentia culpa. Me perguntava se estava sendo imprudente. Se realmente era “estranho” uma mulher escolher estar sozinha por vontade própria. Às vezes, até tentava me justificar: “é só uma viagem curta”, “estou super preparada”, como se precisasse de permissão ou validação para estar ali.

Com o tempo, fui mudando minha postura. Percebi que o incômodo dos outros não precisava ser meu também. E que cada comentário dizia mais sobre a visão limitada de quem falava do que sobre minhas escolhas. Aprendi a me posicionar com firmeza, e também a escolher os momentos de silêncio. Nem toda provocação merece resposta; às vezes, a melhor resposta é um olhar seguro e uma postura confiante.

Essa vivência me trouxe um aprendizado valioso sobre empoderamento: ele não é feito só de discursos inspiradores, mas de pequenas atitudes cotidianas. Saber dizer “não”. Escolher onde entrar e onde não se sentir segura. Reconhecer os próprios limites e respeitá-los, mesmo que isso signifique mudar o plano ou voltar atrás.

🧭 Dica prática:

Prepare algumas respostas curtas e firmes para perguntas invasivas, como:
“Viajo sozinha por escolha. Me faz bem.”
“Gosto da minha liberdade.”
“Estou bem acompanhada: por mim mesma.”

Pratique autocuidado emocional: quando sentir que está absorvendo olhares ou comentários demais, pare. Faça algo que te reconecte. Pode se inscrever no diário, ligar pra alguém querido, colocar música nos fones e caminhar de cabeça erguida.

E acima de tudo: não carregue a responsabilidade de “representar todas as mulheres”. Você não precisa ser impecável, nem corajosa o tempo todo. Só precisa ser verdadeira com você.

Sim, ser mulher e viajar sozinha ainda causa estranhamento para muita gente. Mas a cada passo que damos, estamos abrindo espaço, e caminho — para que outras façam o mesmo, com menos medo e mais liberdade.

Conclusão: O que aprendi ao vencer esses desafios

Viajar sozinha me ensinou muito mais do que qualquer roteiro turístico poderia oferecer. Cada desafio, medo, solidão, imprevistos, decisões difíceis, julgamentos, foi um espelho que me obrigou a olhar para dentro, a me conhecer de verdade, e a construir uma coragem mais real e pé no chão.

Aprendi que ser forte não é sobre nunca ter medo, mas sobre seguir mesmo tremendo. Que pedir ajuda é um ato de maturidade, e não de fraqueza. Que estar só pode ser solitário, sim — mas também libertador. Que tudo o que vivemos, mesmo (ou principalmente) o que dá errado, molda quem somos com mais profundidade do que qualquer plano perfeito.

Hoje, olho para essas experiências com orgulho. Elas me deram mais autonomia, mais escuta interna, e uma confiança que vem não da ausência de dúvidas, mas da certeza de que sou capaz de atravessar qualquer tempestade — mesmo que, às vezes, com o guarda-chuva furado.

🌍 Se você está lendo isso e se perguntando se daria conta: sim, você daria. Do seu jeito, no seu tempo, com suas estratégias. Não precisa ser perfeita. Só precisa ser verdadeira consigo mesma.

💬 E você? Já enfrentou algum desafio viajando sozinha? Compartilha nos comentários, sua história pode inspirar outras mulheres a também se lançarem neste caminho de descoberta.